top of page
  • Foto do escritorAPICE

O Despertar do Narrador

Desperto e percebo-me novamente numa situação pouco incomum para mim, olho para o relógio e me vejo novamente preso no tempo. São 5 da manhã, sei que tentar dormir será em vão. Já faz 2 horas que tento voltar ao mundo dos sonhos, mas não consigo. Tenho tanto a fazer, mas ainda assim me parece errado fazê-lo neste momento, sinto que tenho um importante encontro marcado. Quase como se meu despertar não tivesse sido uma mera infelicidade que me ocorreu. Pelo contrário, a sensação que sinto é a de ter sido despertado por alguém. Por uma pessoa que gentilmente tocou em meu ombro, acariciou meus cabelos e me chamou “está na hora de despertar”. Abro meus olhos, e mais uma vez me vejo aqui diante de ti.


Há tanto tempo que não sentamos para ter uma conversa... O tempo tem se mostrado um tanto quanto severo para mim. Queria ter vindo te visitar mais frequentemente... Mentira. Queria mesmo te ter aqui comigo, sempre. Queria poder te ter ao meu lado, junto a mim a todo o momento. Às vezes me sinto só sem ti, como se os dias passassem sem que os aproveitasse.


Sua companhia me é reconfortante, gentil, carinhosa. Olho para meu futuro e ainda penso em nossos projetos, nossos objetivos, nossos pequenos sonhos bobos.


Mas ao mesmo tempo... Às vezes me pergunto se minha vida ainda tem espaço para ti, se consigo conciliar minha vida contigo. O peso do tempo me é cruel, sinto que tenho que me desapegar de ti, nos separar, ainda que sejam apenas por alguns anos. Fingir que não nos conhecemos, que não me é importante. Negar sua existência poderia me ajudar a suportar os anos que virão.


Tenho uma enorme vontade de aqui terminar nossa conversa, por um ponto final, dizer adeus... Mas algo em mim não quer te deixar. Algo em mim me diz que é exatamente por todos estes motivos que preciso de ti, meu outro eu.


E de certa forma sempre soube disso, que não posso me desapegar de ti. Por mais que me agradasse estar tê-lo, nunca tive a confiança de mostrar nosso coração ao mundo, e talvez por isso me tem sido tão dolorido ouvir que pessoas te reconhecem, quando nem mesmo eu fui capaz de te dar a devida atenção. Peço desculpas por ter te escondido por tantos anos, por não ter sido capaz de ouvir seu chamado.


Obrigado por me acordar


Texto escrito por: Marcio Yoshio Matsushita

29 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page